Volta às aulas sem vacina é risco de morte para todos
Carta aberta da APOS aos pais, munícipes, autoridades e servidores públicos de Osasco
Caros pais, autoridades públicas, servidores públicos e cidadãos osasquenses.
Nos últimos meses o retorno às aulas presenciais tomou conta do debate público e do nosso cotidiano. Jornais impressos, podcasts, rádios, tvs, sindicatos, associações, universidades, almoço entre familiares e redes sociais se debruçaram sobre o quão é seguro ou não voltar às aulas presenciais diante de uma das maiores pandemias da história da humanidade. E por que neste debate entre especialistas em saúde e educação, pais, professores e autoridades públicas não há consenso? A resposta é simples: sem vacina contra a covid -19, para todos, não há volta à normalidade segura.
Infelizmente, vivemos uma calamidade pública e as medidas governamentais para conter a crise sanitária são incipientes, letárgicas e com pouca perspectiva de resolução definitiva a curto prazo, apesar da luz no fim do túnel vinda com aprovação de algumas vacinas pela Anvisa.
Além da ineficiência do Estado brasileiro em lidar com o vírus, a imprudência e a falta de empatia de uma parte da sociedade que teima em não respeitar os protocolos sanitários para conter a propagação da doença, expõe ainda mais os brasileiros, de qualquer idade, a uma roleta russa diária.
Enquanto escrevemos essa carta, milhares de brasileiros estão perdendo a vida para essa doença. De acordo com o consórcio criado pelos veículos de imprensa, a média móvel de mortes pela covid-19 ultrapassa os mais de 1.000 óbitos diários e a curva se mantém elevada há cerca de dois meses. Devemos alcançar a marca macabra de 250 mil mortes nos próximos dias. É como se 1/3 da população de Osasco fosse dizimada em menos de um ano.
Diferente de muitos países no mundo, como Nova Zelândia, Inglaterra e Israel, onde as vacinas e as medidas de lockdown surtiram efeito e o número de casos caminha para uma redução e controle, o Brasil tomou o caminho oposto e já se depara com uma terceira onda, a partir de uma nova variante do vírus, uma nova cepa, mais contagiosa que, como rastilho de pólvora, espalha-se rapidamente pelas cidades paulistas.
Neste exato momento, sabemos que as UTIs no estado de São Paulo estão abarrotadas. Segundo noticiou o jornal Folha de S.Paulo no dia 23 de fevereiro, após coletiva do governo paulista, “Ultrapassamos um numerário histórico da pandemia” e “Em relação a última semana, o estado teve um aumento de 5,6% na média diária de novas internações, chegando a 1.538 pacientes” e “A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 67,9% no estado e 67,8% na Grande São Paulo”. Segundo o secretário de saúde do estado Jean Gorinchteyn, o aumento de internações mostra uma circulação mais intensa do vírus na região.
Para piorar, a nova vertente brasileira do sars-cov-2 (como é conhecido cientificamente a covid-19), tem atingido os mais jovens, justamente àqueles que voltam às aulas presenciais, contribuindo para a crescente ocupação dos leitos de UTI, como noticiou o jornal e portal Brasil de Fato de 16 de fevereiro. “’Esse pico coincide com uma semana depois do início das aulas na rede particular, que voltou dia 1° de fevereiro’, explicou o professor Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, sistema de monitoramento da pandemia de covid-19 em São Paulo, elaborado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pela Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo”.
Diante dessa nova e rápida proliferação da nova cepa e na lentidão da vacinação, como também mencionou o portal BBC Brasil no dia 19 de fevereiro, “Se continuarmos nesse ritmo, levaremos mais de 3 anos para resguardar todos os habitantes do país — e isso sem considerar as interrupções noticiadas recentemente, que podem ampliar bastante esse prazo”, viemos a público dizer e reforçar que não é possível o retorno às aulas presenciais nesse momento.
Sabemos, pedagogicamente, os prejuízos educacionais e sociais que as medidas de isolamento, distanciamento social e a falta das aulas presenciais provocam no desenvolvimento das crianças. Entendemos que para recuperar esse tempo perdido será necessário uma enorme mobilização e dedicação dos educadores para reduzirmos ao máximo os prejuízos causados pela pandemia no desenvolvimento humano dos estudantes brasileiros, principalmente dos alunos de escolas públicas.
Mas é importante frisar que vidas não são apenas números. Uma boa parte da categoria dos profissionais de educação, em destaque os professores, pertence a grupo de risco. E mesmo obedecendo aos protocolos introduzidos no complexo escolar, é de notório saber que não há segurança ou medidas eficazes de mitigar a propagação do vírus em sala de aula ou em qualquer ambiente de aglomeração.
Como professores e profissionais da educação nunca renunciamos à nossa missão de educar. Como professores, nos dedicamos a ensinar independente de salas insalubres, salários defasados, carga horárias extenuantes, desrespeito, doença ocupacionais, violência e insegurança. Mas tudo tem o seu limite.
Por isto, nos manifestamos, e contamos com a compreensão e apoio de pais, autoridades e cidadãos osasquenses, contra o retorno das aulas enquanto os trabalhadores do âmbito escolar não forem completamente vacinados. Não queremos furar a fila, mas é preciso que o Estado brasileiro garanta uma vacina rápida, de qualidade, eficaz a todos no curto prazo de tempo para que voltemos a nossa normalidade, com aulas, lazer, confraternização e uma vida cada dia mais saudável.
Volta às aulas somente com vacina para todos.
Vacina Já!
Diretoria da APOS